quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Um romance que ninguém leu


No título e no primeiro parágrafo, essa matéria aí do print acima expressa à perfeição a forma como nossa solerte imprensa esportiva se comporta em toda Libertadores da América. A chamada, "Cruzeiro decepciona": não sei a quem. Enfrentou um time em ascensão como o campeão mundial Racing, que conta com a principal revelação do Campeonato Argentino atual, no Cilindro de Avellaneda, local sempre muito difícil de se obter vitórias. Isso revela ao mesmo tempo duas patologias incuráveis dos nossos homens do microfone: desconhecer previamente qualquer adversário que cruze o caminho de times daqui, independente se forem gigantes argentinos ou equipes venezuelanas pela primeira vez na competição (passam a manjar somente no jogo em si, do brazuca contra o "time a ser atropelado" na visão unilateral que ostentam), e considerar sempre o esquadrão verde-amarelo o "favorito", em qualquer partida que dispute.

O primeiro parágrafo, por sua vez, diminui o feito racinguista como só um bom jornaleteiro adestrado nas redações pátrias poderia fazer: os tentos só aconteceram porque a zaga do Cruzeiro permitiu. Os caras insistem, no corpo do texto, que os QUATRO gols do Racing só aconteceram por falhas da defesa, nunca há mérito no adversário... Nojento ou hilário, você escolhe:



Inacreditável.

Desde o início do ano, devido ao montante de dinheiro investido, nossos implacáveis analistas apontam o Palmeiras como "favorito" nessa Libertadores. Milton Neves chegou a falar até em "obrigação" (ele ou o estagiário contratado para redigir platitudes em seu blog, não sei dizer). Mas me pergunto, sempre com assombro frente a tamanha cara-de-pau: como podem apontar algum favoritismo sem saber NADA dos adversários? Desconhecem mesmo os momentos atuais de River Plate e Boca Juniors, os eternos gigantes sul-americanos mais uma vez presentes na competição, que dirá aqueles nomes menores que burramente apontam como "surpresas" ou "zebras", caso do Barcelona equatoriano no ano passado. Bastava ver a equipe em campo para saber que se tratava de uma esquadra arrumada, veloz e competentemente milongueira; mas, algum desses, às voltas com transmissões da Premier League dos jogos robóticos ou da Liga Espanhola com nível cada vez mais amadorístico, teve tempo ou disposição de fazê-lo antes dos embates com brasileiros, para saber qual que era daquele time, tentar desvendar a razão de chegarem tão longe? Vaidosos e prepotentes, jornalistas esportivos do nosso Brasilzão ainda enxergam as canchas sul-americanas como um sombrio lodaçal no qual quase ninguém deseja penetrar - e, assim, passam mais vergonha que qualquer time derrotado.

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