segunda-feira, 27 de abril de 2015

É a última vez que me dá vergonha


O cinismo do futebol mercantil assusta até mesmo quem já entendeu parte de seus meandros. Semana passada, nessas caixa de comentários em blog (coisa que não recomendo a ninguém, ler comentários de usuários da Internet, porém vira e mexe faço e me arrependo sempre), um tonto se apresentava como torcedor do Chelsea, disse que não há nada de errado em se torcer para times estrangeiros (a princípio, nada errado mesmo), mas justificou que tomou essa decisão por conta da "corrupção" que toma conta dos clubes brasileiros. Ora, meu filho... Tu me sai com essa e escolhe como seu esquadrão favorito o pioneiro em se lavar a granel dinheiro da máfia russa???? Vai catar coquinho.

Outro dia, inclusive, fui xingado em um blog de cronista esportivo por ter dito, em um comentário, que o tal Hazard nada mais seria que um "Tupãzinho com grife". Vi pouquíssimas vezes esse jogador belga, tenho a certeza de que não me impressionaria nem um pouco se visse com maior atenção (e que a comparação com Tupã seria injusta - para o brasileiro, claro), mas mexer com os "ídolos" dessa molecada é, como se prova continuamente, pior que xingar a mãe.

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Pensava que essa tara por pênaltis fosse coisa exclusiva do claudicante futebol brazuca, mas me enganei - ontem assisti ao primeiro tempo de Arsenal x Chelsea pelo Inglesão e, só naqueles zerados e modorrentos 45 minutos iniciais, houve chiadeira por penalidades TRÊS vezes. Lá como cá: é gente que cai na área e levanta dando chiliques com o juiz, o narrador e o comentarista tornam-se histéricos e acreditam-se com visão além do alcance (isso depois de formarem opinião apenas após uns quatro ou cinco replays da jogada), é um monte de "mão na bola" que viram lances capitais, etc. É uma patologia! Mas, cá entre nós: um dos times entrou com cerca de mil jogadores de meio-campo e nenhum atacante de ofício (centroavante virou peça descartável nesses campeonatos "evoluídos taticamente"); o outro me sai com o tal Giroud (essa boneca aí em cima), francês que claramente serve mais pra tirar foto do que pra pra marcar gol. Numa partida como essa, de "desenho tático" regressivo e postura covarde, só um pênalti mesmo pra tirar o placar do zero.

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Embora o jogo tenha sido melhor do que imaginava a princípio, Santos e Palmeiras me assustou por ver que a arquibancada brasileira já absorve um dos comportamentos mais boçais e inócuos das "arenas" estrangeiras: as palminhas. Ao final de qualquer jogada, não importa se foi um lateral, carrinho, um escanteio, um chute a gol ou algo desimportante: aplaude-se com entusiasmo, reconhecendo generosamente o esforço daquele que suja o uniforme ou até rasga a pele no gramado. O "aplaudir", mais do que esfregar a educação e a polidez da turma endinheirada que agora povoa os estádios na cara daquela gentalha horrorosa e sem dentes que antes estava por ali, é recurso de quem assiste aos jogos sentado. Coisa de quem vai à ópera. Ou ao teatro. Ou a espetáculos de mímica. O futebol deveria ser uma outra coisa.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Pois estava molhado além de morto


Segunda-feira, vemos em destaque nos portais de Internet a incrível goleada do Real Madrid em cima do Granada (quem?), 9 a 0, e, obviamente, com "show" do "melhor do mundo", Cristiano Ronaldo, que marcou 5 tentos. Para muitos, isso atesta a saúde de ferro de um grande clube, este rolo-compressor que massacra quem quer que apareça pela frente - pra gente, amargos como sempre, somente confirma a triste falência desse campeonato que deveria ser oficialmente extinto (pois extra-oficialmente já não existe faz tempo), o espanhol.

Sim, pois um resultado desse é coisa para se lamentar, não merece destaque ou comemorações. É um obituário, a atrasadíssima missa de sétimo dia de um cadáver que há muito já se foi - e que ainda insistem em não velar. Pobres os que enxergam "show" nesse tipo de partida, já que desde o início espera-se uma goleada do gigante, basta apenas resolver o problema do placar, quantos gols teremos dessa vez, e o acuado time pequeno não objetará em momento algum, sua resistência será pífia, apenas aquela protocolar para garantir o emprego da moçada, "fizemos o que pudemos", na verdade não podiam mais do que isso mesmo, o torneio foi construído para que assim o fosse e ninguém parece incomodado, ao contrário, fica a impressão que todos ali se seguram para não aplaudir Cris Ronaldo CR7, estão maravilhados como crianças por estar no mesmo gramado que o "ídolo", queriam ser como o astro das sobrancelhas modeladas porém nada fazem para alcançar tal objetivo além de jogar uma bolinha bem mais ou menos em um clube que oscila todo ano entre primeira e segunda divisões, resta apenas dizer algum dia que jogou contra ele, seja em entrevistas para programas que mostram a vida de ex-boleiros ou em descontraídas churrascadas com os amigos, afirmar que Cris estava "em dia de Maradona", que "era impossível pará-lo", ajudar a construir um mito que não permite desconstrução, contente com sua função de ser um nada na inclemente roda do destino, mas pleno de satisfação por conta da foto que tirou com o craque luso e de ter trocado camisas com ele ao fim do prélio, a sua camisa não se sabe que destino teve, mas a dele... Esta mereceu ser colocada em moldura de vidro e pendurada na sala daquele que um dia foi seu adversário - e que não possui alternativa senão aceitar um 9 a 0 contrário como o maior feito de sua carreira, e ostentar o orgulho da derrota pelo resto da vida.

Fechem esse campeonato espanhol, ainda é tempo!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Sinforoso, um brasileiro


Não é de hoje que o apresentador/radialista Milton Neves faz campanha pela volta do "mata-mata" como fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro (também conhecido como "Brasileirão", aquele campeonato que é o mais forte do mundo - sim, do mundo - pois sempre possui 13 ou 14 times que entram como favoritos, segundo boa parte de nossos solertes analistas). À parte o aparente retrocesso que tal ideia possa representar neste povo que tanto ansiou por ver seu torneio nacional enfim "organizado feito os europeus"; à parte algum (alguns?) interesse (interesses?) comercial que o jornalista possua que possa justificar sua pregação; mas um ponto não tão óbvio, e que de forma alguma esperaria que fosse levantado ou discutido pelos graúdos da imprensa esportiva, me pareceu importante salientar.

Não teria sido apenas isso, claro, outros fatores também influem pesadamente, mas os pontos corridos não teriam contribuído para que o jogador brasileiro se transformasse neste bonequinho de ventríloquo que aí vemos hoje, um burocrata com cartão de ponto em punho, um zero à esquerda que não possui mais qualquer poder de decisão? Um campeonato que rasteja da forma como esse Brasileirão de pontos corridos, talvez até pela inexperiência atávica do atleta nativo com esse tipo de fórmula "europeia", favorece a apatia - esta bem expressa por estes analistas leite-com-pêra de canal pago que cobram das equipes "a formação de bons elencos" e não mais "sangue nos olhos" por parte de quem está em campo (o tal "bom elenco" sempre diminui os riscos, para o bem ou para o mal, além de ser a desculpa perfeita para cozinhar os jogos em fogo brando, deixá-los ainda mais lentos por conta da prévia desculpa da "falta de conjunto", e ajudam a imbuir no profissional um excessivo senso de precaução que aniquila qualquer vitalidade que seu futebol possa apresentar). É como se, mesmo após definido o campeão, não houvesse qualquer emoção até para quem venha a comemorar esse título, pois isso se dá por um acúmulo que torna o imediato desimportante; não se encara cada jogo como um ato fundamental por si só, e sim como parte integrante de um todo que privilegia um "planejamento" metódico e indiferente. O "Brasileirão" lembra muito o personagem interpretado por Franco Nero no filme "Django" (o original), que anda pelo mundo arrastando um caixão preso a uma corda - mas a resolução que o pistoleiro apresenta para dar cabo de suas vítimas é inversamente proporcional à inércia do jogador moderno, esse adepto das "selfies" e das tatuagens porém com sérias dificuldades de acertar passes curtos. E, se a modalidade de disputa não é ela própria o peso morto a ser puxado até o fim do ano, o que esta provocou no futebolista pátrio, que de "irreverente" passou a "indolente" com grande facilidade (e com a constante proteção dos que deviam atacar esse estado de coisas - talvez aí a iniciativa de Neves em ser uma voz contrária mereça elogios), esse sim é um fardo desesperador a se carregar.

Pra se pensar.