quarta-feira, 8 de julho de 2015

Do mastigativo ao defecativo


Hoje, um ano depois do 7 a 1, existe a consciência, enfim ampliada, de que a podridão no futebol chegou ao pescoço.

Porém, assistir a uma dessas mesas-redondas dominicais (ou mesmo a essas diárias, horror dos horrores), nos dá a impressão de que tudo está bem.

Claro, é inegável que as críticas são mais duras e certas realidades são agora cruamente expostas; mas ali ainda douram a pílula constantemente, sem atacar o estado de coisas que faz deste campeonato brasileiro de 2015 não apenas um torneio deprimente, mas também a base de tudo que está errado com o futebol jogado hoje e que estoura nessas absurdas seleções montadas de uns tempos pra cá. Como se pode conseguir algo se técnicos covardes são chamados de "estrategistas"? Quando seus times empatam em 0 ou ganham pelo placar mínimo, pois não atacam e plantam-se em blocos panzer que agora são chamados de "compactação", não são contestados, e sim exaltados pela "postura da equipe"? Quando craques já saem dos juniores com braços tatuados e cabelinho montado a la Lucas Lucco, porém sem sequer saber dominar uma bola, quanto mais outros fundamentos? Quando categorias de base são transformadas em sucata, ou em morada de empresários amigões (estes que via de regra já levam a tiracolo seus pupilos, estes extraídos de escolinhas de futebol, não mais de várzeas ou campos de terra)? Onde diretor de futebol é tido como "estrela" (vide Edu Gaspar e Alexandre Mattos), onde se dilapida um elenco com extrema facilidade, onde se vende atletas para lavar grana, onde bobagens como "naming rights" viram pauta importante? Achar um modorrento empate sem gols um "jogo de interessantes variações táticas" ou sorrir feito um retardado para as câmeras graças a matérias engraçadinhas também contribuíram para o 7x1. Jogar pra galera agora é fácil.

Prova de que nada mudou: ainda tem gente dando moral para o A$$is, empresário de Ronaldo Gaúcho... É mole???

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Vou pra Acapulco tomar banho de mar - parte 2



Mais atualizações, galera - o mercado para os brasucas bons de bola que serviram nossa portentosa seleção está a todo vapor!

- Não é o comentarista fanfarrão, e sim o goleiro da Fiorentina! Neto, reserva de Jefferson na Copa América, chega à Juventus de Turim também para esquentar banco; afinal, lá está Buffon, não apenas um arqueiro seguro e regular, mas também pertencente a uma geração anterior à dos craques de fone de ouvido espalhafatoso pendurado ao pescoço. Aos 37 anos, sem precisar se esforçar muito, ainda rende mais que qualquer novato - assim, se um grande time começa com um grande goleiro, nossa gloriosa canarinho hoje dispõe de um que disputa a segunda divisão e outro conformado com a suplência. Uau!

- Nos retratamos aqui por um lapso imperdoável na última postagem: esquecemos de comemorar o retorno de Casemiro ao Real Madrid! Segundo os que possuem abnegação sobre-humana a ponto de conseguir acompanhar o campeonato português, Casemiro fez "ótima temporada", mais uma vez (estranho que um jogador que mal consegue ser titular por onde passa tenha tantas "ótimas temporadas" no currículo, mas nossos solertes analistas devem saber o que falam); assim, não é surpresa que o Real tenha se coçado para trazê-lo de volta - se bem que dizem que o Valencia também se interessa por nosso bravo meia-cancha! É Casemiro, prevemos outra "ótima temporada" pra você!

- Ausente na Copa América, mas já convocado por Dunga, Luiz Adriano (quem?) acerta com o outrora todo-poderoso Milan! Titular do disputadíssimo Shaktar Donetski, time ucraniano que abre os braços para brasucas bons de bola e seus assessores mil, o centroavante vai à Itália para tentar tirar o rubro-negro milanês da lama, em um elenco que tem até japonês! Será que consegue? Arriscamos que não, porém vale a torcida por mais esse orgulho da pátria!

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Vou pra Acapulco tomar banho de mar


A atual seleção brasileira é vergonhosa, é um papelão atrás do outro, assistir a um jogo completo é suplício que não desejamos nem aos maiores desafetos, porém nem tudo está perdido! Um dos principais motivos da convocação, negociar os "craques" com grandes centros ou mesmo com locais periféricos que paguem bem, esse sim enche de sorrisos nossos engravatados da bola. Vamos lá!

- Firmino, que já havia sido dado como novo "Red Devil", agora não é mais; porém, seu cabelinho arrojado e tatuagens no pescoço foram ao lugar certo: a Premier League, claro! Para o Liverpool, o que trará ao Inglesão uma saudável disputa: quem, na próxima temporada deste campeonato que dita moda, terá o topete mais popular entre os cabeleireiros do mundo?

- Douglas Costa, que apareceu no grupo e eu não sabia sequer quem era e quanto mais de onde havia vindo, agora sei para onde vai: para o todo-poderoso Bayern de Munique! Ele merece, joga muito!

- Um zagueiro até certo ponto respeitável, Miranda conseguiu o que visavam quando não só virou beque titular como capitão dos amarelos: trocou o Atlético espanhol pela Inter italiana! Já tem uma certa idade nosso "capita" né, precisa aproveitar agora pra forrar as carteiras dos aspones!

- Robinho, que ganhava a bagatela de 1 milhão de reais/mês, ficou "chateado" de o Santos não lhe oferecer aumento, tadinho! Como ele merece uma fortuna tipo a caixa-forte do Tio Patinhas, lá foi para a China, faturar muuuuuuuito e tornar-se mais um fora-de-série nesse tão disputado certame asiático!

Os manteremos atualizados, amiguinhos - negociou selecionável, a gente noticia!

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Ele vai ficar com calos onde eu estava dizendo


Um dos mitos mais constrangedores criados para segurar a onda do futebol brasileiro pós-Ronaldo "Fenômeno" teve o próprio como protagonista: a tal "convulsão" na final da copa de 98. Uma balela ridícula que nunca se provou, mas que, graças a esse eterno telefone sem fio que é a mocoronga imprensa esportiva, virou verdade. Afinal, que conveniente é arrumar um surto ocorrido exatamente com o "principal jogador" (aspas aí pois era o principal para eles, nunca para nós) do time, ao mesmo tempo blindá-lo com uma historinha estapafúrdia e mostrar que ele é de "carne e osso", que todos podemos sucumbir em momentos de extrema pressão (jogador de ponta, tratado como "gênio", ter crise em final de mundial, o lugar no qual todos almejam estar? Vai vender bijuteria, cara!), e ao mesmo tempo resguardar todo o futebol brasuca, "não, não tem nada de errado", "foram os espasmos de Ronaldo que desestabilizaram o time, fora isso tá tudo bem"... A história já estava inteirinha pronta, seus desdobramentos eram perfeitamente plausíveis, bastava vendê-la - e esperar que fosse aceita. Para tanto, foi necessário mascar o cérebro da audiência até o ponto em que este ficasse inerte (vi inclusive uma história em quadrinhos com a "dramatização" do ocorrido), o que não exige grande esforço. Quase 20 anos depois, o conto da convulsão ainda está por aí e de vez em quando é repetido, porém, com as recentes papagaiadas da "nossa" seleção, perdeu um tanto de sua força mistificadora, já que a atual geração mostrou exaustivamente que o real problema a ser encarado é técnico, e não clínico.

Pois sim! O incrível Dunga, treinador opaco que cabe perfeitamente nessa seleção sem cara, e titular naquela final contra a França, tentou o golpe outra vez: na derrota para o Paraguai, que desclassificou o time da CBF dessa edição da Copa América, veio com um papinho de "virose", que 15 jogadores foram afetados, ficaram moles durante a semana e cheios de dorzinhas, mas ressaltou que isso não era "desculpa" e nem "atenuante" para a vergonha (como se a intenção de jogar o assunto na roda fosse outra). Já que não existem mais craques para vitimizar, afinal o único que poderia sê-lo farejou a roubada e deu um jeito de cair fora, agora a responsabilidade é pulverizada: para dar peso à história, é necessário incluir praticamente todo o elenco em vias de dar alguma plausibilidade ao rolê, de buscar alguma comoção, de permanecer arrogante e mau perdedor sem dar tanto na vista. Apelação e covardia à parte, o reflexo mais importante se deu na recepção às palavras do "professor": se aquelas que relatavam a tal "convulsão" serviram para unir o país em torno da mentira, de um auto-engano descarado, e assim, com um paliativo sem-vergonha, mascarar o péssimo futebol resultado da doentia valorização do carreirismo que tinha como principal artífice ele mesmo, o "convulsionado", dessa vez a lembrança do 7x1 não permitiu. Os vícios estão expostos como nunca; a bomba que em 98 já devia ter feito estragos profundos só agora espalha seus estilhaços. Virose? Gangrenou de vez, isso sim.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Escalações vemos, costumes já sabemos


O golpe já é antigo. Ganhou força com o advento da "transferência ao exterior", não a ida de Amarildo ao Milan e de Júlio Botelho para a Fiorentina, e sim essas banalizadas e feitas de baciada, de nego que topa qualquer negócio pra sair do futebol brasileiro e assim encher o bolso de uma diversidade acachapante de atravessadores (tem até supermercado metido em negociata de jogador, responsável por "fatias" do passe de diversos fantoches). É feito da seguinte maneira: o técnico da seleção pinça um sujeito desconhecido em algum time menor da Europa, alguém longe de ser brilhante mas que também não o faça passar vergonha, e o coloca pra jogar - existe o risco de ambos se queimarem, porém, se dá certo, o atleta garante transferência para algum time maior (no fim das contas, o real interesse da porra toda) e o treineiro passa a ser visto como "observador", como "descobridor de talentos", como alguém que realmente acompanha os "craques" brasileiros em qualquer buraco do mundo (uma espécie de torcedor de sofá remunerado).

No ano passado, Hulk era a aposta. Destaque no fraquíssimo campeonato português (se é que alguém que disputa o torneio nacional luso mereça a licença poética extrema de ser chamado de "destaque"), passou a ser seguidamente convocado, e a ideia era enfiá-lo a fórceps em qualquer grande centro que chegasse primeiro com a grana imaginada. Deu chabu (e mesmo eu dei com os burros n'água, pois cravei aqui no blog que o cheiro de transferência do jogador para o Real Madrid estava cada vez mais empesteando o ambiente) - o cara foi para a Rússia, faturar alto mas ficar ainda mais escondido que em terras patrícias (pode ser que para os atravessadores seja até melhor assim, ninguém pedindo prestação de contas, todos se refestelando à vontade com as mordomias e benesses desses mercados nebulosos do esporte, sem precisar dar satisfações a ninguém). Isso com Felipão. Agora, temos Dunga, e com ele chegou o ainda mais obscuro Firmino (quem?). Mas com esse não perderam tempo: já foi repassado ao Manchester United. Permaneço sem saber quem é, em qual posição joga, qual clube o revelou no Brasil - mas os negociantes da bola e os indestrutíveis homens da CBF, (muito) mais espertos do que eu, tornam esses detalhes irrelevantes em um piscar de olhos.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O maior e o menor


Abro um portal aí e a notícia a respeito da morte de Zito começa assim: "Morreu neste domingo José Ely de Miranda, mais conhecido como Zito, um dos responsáveis por revelar Neymar e por ser integrante do time que tinha Pelé." Se levarmos em conta essa frase, o sujeito capitão do maior time já montado por um clube em todos os tempos, bicampeão mundial tanto por esse Santos quanto por uma seleção brasileira repleta de gênios e considerado o maior médio-volante jamais surgido em nosso futebol, teve como mérito primeiro em sua vida vida futebolística o fato de "revelar Neymar". Me digam se não é pra cair o cu da bunda.

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Certa feita Toro e eu revíamos lances do jogo Itália x Argentina na copa de 74 e um dado momento chamava nossa atenção. Fabio Capello, centroavante azzurri, percebe o cruzamento da direita, fica parado na área, a bola chega lentamente, ele prepara o cabeceio com esmero e por fim manda bisonhamente por cima do gol. Falávamos, em tom de brincadeira, que Capello ali mostrou como era burro, pois teve liberdade e todo o tempo do mundo para pensar no que faria e mesmo assim fez uma cagada daquelas. O grotesco segundo gol do Palmeiras esse fim de semana trouxe esse lance de volta à minha mente. Rafael Marques está frente a frente com o gol, sem marcação, um goleiro ainda se levantando, tem o tempo de mirar a cabeçada e um espaço imenso à sua disposição, faz uma pose de quem realmente domina o fundamento, e consegue finalizar na trave. Se a história se repete como farsa, não há lugar mais adequado para essa repetição do que o "Brasileirão".

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Por falar em "Brasileirão", assistia a algum jogo da Copa América no sábado (nem lembro qual era, essas partidas iniciais do torneio estão tão fracas que tornam-se automaticamente esquecíveis) pela SporTV, e eis que o narrador Luiz Carlos Jr. solta uma frase divertidíssima: "e logo em seguida teremos Vasco e Cruzeiro, partida que também promete muitas emoções!". Rebaixa-se a esse ponto para manter o emprego ou realmente acredita-se que um jogo do "Brasileirão" neste macabro 2015 é farto em emoções? Ou as duas coisas? Mistério...

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Ele fez a fintaaaa! Ele fez a fintaaaa!


Fica a homenagem do Antimídia à cúpula do futebol mundial que agora assiste ao sol nascer quadrado, ou está em vias de - basta uma fuçadinha, nem precisa ser muito profunda, para incriminar muito jornalista por aí, jornalista com o rabo tão preso com as maracutaias que chega a dar nó pra não soltar fácil. Parabéns, Brasil!

(Título da postagem remete a um dos lances "fantásticos" de Ronaldo "Fenômeno" narrado por Galvão Bueno - basta o FBI querer, que pega essa gente com a mão enterrada na massa.)

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Vamos colocar o castelo de areia abaixo


Voltemos ao caso dos jogadores mimados - dois acontecimentos recentes exemplificam a frescura:

Ontem, no estádio Beira-Rio, o centroavante Luis Fabiano foi sacado pelo treinador Milton Cruz. Saiu nervosinho. O repórter de campo alertou: "parece que ele não gostou da substituição". Um sujeito de 34 anos, em má fase que perdura há tempos e que nada havia feito em campo, ao ser retirado do time, se comporta feito criancinha birrenta. "Sequer olhou para o treinador", repetia o homem do microfone, enquanto o comentarista craque Neto buscava justificativas (o papo do "tem crédito com a torcida por tudo o que já fez pelo clube" sempre surge nesses momentos, com efeito apaziguador). Não destaco este fato por achar que houve "falta de respeito", tampouco por acreditar que o veterano atacante deveria acatar tudo o que o técnico ordena, mas sim por acreditar que a autocrítica desses excessivamente sensíveis miliardários esteja tão combalida a ponto de colocá-los em situações vexatórias como essa. Fabiano realmente acreditava que sua permanência em campo era imprescindível? O que havia feito no jogo (e, por extensão, na temporada) que o leva a ver-se tão necessário assim? Não é novidade jogador vaidoso que coloque o ego à frente das circunstâncias, mas vivemos um momento no qual a soberba é ela própria o espetáculo. Um aparato de aspones (assessores, agentes, empresários) torna-se mais importante que o jogo, e não só permite que o mau futebol permaneça em campo, mas praticamente exige, afinal é sustentado por ele. Se o mesmo mau futebol enfim o tira do gramado, vem esse escândalo. Existe uma estrutura que parasita o atleta, a seiva que a mantém viva é a bajulação, o tapinha nas costas, a distorção - e a atitude de Fabiano, esse super-homem imaginário que há muito parece ter na bola a sua kriptonita, era não arrogante, mas sim de proteção. Proteger o que viciou o futebol e transformou-o nessa exibição contumaz de vazio: para esses caras, missão dada é missão cumprida.

Sobre o segundo acontecido, começo com uma historinha. Certa vez um primo meu estava em casa, e fomos assistir a um jogo do Barcelona. Isso faz algum tempo, porém já existia um oba-oba em relação a Daniel Alves que eu, mesmo naquela época distante, enxergava como injustificável. Falei pra ele: "esse cara não consegue acertar um cruzamento, se liga". Ficamos de olho. Veio a primeira bola alçada na área: errada. A segunda, também lá longe. A terceira, a quarta. Até onde suportamos assistir, o incensado "Dani" realmente não conseguiu acertar um cruzamento sequer! E eis que o limitadíssimo jogador agora vem a público se dizer "magoado" com o Barça. "Esperava mais reconhecimento", confessa, quase levando nossos solertes analistas às lágrimas, que, claro, concordam com o desabafo do lateral. Aqui, neste sítio, ninguém tem peninha de jogador com esse perfil não: atleta com alma de carreirista deveria saber que comportamento de empresa com relação a seus funcionários é sempre impessoal, em especial com subalternos sem brilho. Que "Dani" Alves cesse sua choradeira e agradeça, pois no fim das contas alcançou muito mais do que seu futebolzinho mixuruca o credenciava - e que seu duvidoso gosto estético mereceria.

(Aliás, quem tentou assistir ao já citado jogo do Inter contra o SP ontem deu de cara novamente com o espetáculo bizarro dos times que não querem vencer jogo. "Quando os craques resolveram não jogar...", diria o profético Fernando Vanucci a respeito da copa de 2006 - mas para o "Brasileirão" de 2015, aquele que encontramos times favoritos de cima a baixo, também serve feito luva.)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Armando uma pindureta


Durante um bom tempo não postei nada aqui neste blog, pois não conseguia aceitar um futebol que parecia caminhar para enterrar de vez a formação de equipes - era um momento sombrio, no qual o culto à personalidade valia mais que o conjunto, no qual os times transformaram-se em um amontoado de jogadores que ali estavam apenas para fornecer brilho individual e nada mais se esperava deles, no qual técnico também era um adorno, bastava colocar esses caras em campo e o problema estava resolvido - mesmo que taticamente todos ficassem perdidinhos feito barata tonta (o Real Madrid de uns anos atrás era patético exemplo; nem sei como está hoje, prefiro cama de espinhos a futebol espanhol). Claro que as sequelas se fazem notar até hoje - por mais que o campeonato inglês e seus craques robotizados (lobotomizados?) tentem fazer você crer no contrário -, porém o nosso fantástico "Brasileirão", aquele que tem times favoritos ao título a dar com o pau, inaugurou outra assustadora modalidade moderna de prática esportiva: a dos times que não querem ganhar. Sim! Essas três rodadas do "Brasileirão" ratificam a inacreditável covardia: é a de pior média de gols desde 1990, segundo o solerte e numérico comentarista PVC. Estranho seria se fosse o contrário.

Ontem tentei assistir a Fluminense x Corinthians (em um mundo de times que não querem vencer, qual a razão de se assistir a uma partida completa?) e a farsa ali estava, novamente: marmanjos milionários andando em campo, equipes cinicamente escaladas com um solitário atacante, meio-de-campo de ambas em ritmo tão modorrento que dariam inveja a uma preguiça do mato, chegadas ao ataque desinteressadas e protocolares, pois, apesar da vontade lancinante de fazê-lo, pegaria muito mal só recuar a bola para a defesa durante os 90 minutos... Os chutes a gol são de dar dó: ou surgem de bolas paradas ou de pipocadas medonhas dos beques. Não há vontade em campo, não há suor, muito menos colhões. O técnico não está nem aí, pois o empate assegurado pode garantir palavras elogiosas nas mesas-redondas dominicais, aqueles "armou muito bem o time" de praxe. A própria fórmula de disputa desse torneio tão recheado de favoritos é indiferente, pois derrota não transtorna ninguém, pode-se acumular muitas "gordurinhas" pra queimar na tabela até o fim do ano. A equipe de transmissão, encurralada, sem saber se faz o jogo da emissora e trata o espectador feito idiota ou assume que aquilo que exibem é um entulho de descomunais proporções, brada por marcação de pênaltis a todo momento. Um negócio absolutamente inútil, em suma. Futebol no qual ninguém quer gol: inútil.

Na entrevista final, Fernando Fernandes chega em Petros com a indagação: "devido às circunstâncias, tá de bom tamanho o empate, né?", no que o jogador responde: "a equipe está de parabéns". O comodismo agradece.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Ninguém consegue comer um milhão de sanduíches, bobão


Inicia-se o campeonato brasileiro, esse que é o mais forte do mundo pois praticamente todos os times entram como favoritos, e vemos acontecer de novo uma das práticas mais indecentes às quais esses nossos treinadores meia-sola se entregam sem pudor: "poupar jogadores". Quando digo neste blog que esse atletas brasileiros são mimados até o último, me refiro a esse tipo de coisa. Temos dois grandes mitos do futebol moderno em evidência aqui: 1o) - a propalada "maratona de jogos"; 2o) a "prioridade" a alguma competição (nenhum dos dois temas é novo, óbvio, mas agora viraram religião para boa parte de analistas e técnicos). Certos cronistas parecem que irão às lágrimas em programas de TV quando falam destes pobres jogadores obrigados a disputar duas partidas por semana. Que vida terrível essa, imaginem vocês! Entrar em campo de quarta e domingo, ou de terça e sábado! Que medida abusiva! Devem ficar estourados estes pobres ATLETAS (em caixa alta, para destacar), cercados de preparadores físicos, nutricionistas, 'personal trainers' e toda sorte de profissionais que os preparam para extenuar-se nesta atividade exaustiva. Deprimente, um regime quase escravocrata! Um sujeito que fatura cerca de 300 mil reais por mês, ou mais até, deveria estar preparado para disputar umas cinco partidas POR DIA (caixa alta proposital novamente), mas não: nessa cínica lógica do futebol 2015, o cara ganha mais pra jogar menos.

Quanto a "priorizar" tal competição em detrimento daquela outra, mais uma vez a lógica parece artigo de luxo. Ora, vamos explicar de forma bem inocente: você está em uma Libertadores da América, e não está sozinho - outros times jogarão contra o seu. Você está em um "Brasileirão", aquele que quase todos entram como favoritos a vencer, e também não está sozinho - várias são as agremiações que disputam esse torneio (e quase todos podem estar nas cabeças, vale insistir). Caramba - existe a possibilidade de ser desclassificado! Nossa! O adversário pode estar em um bom dia, ou mesmo ser melhor (coisa que analistas brasileiros não conseguem dizer, possuem um freio na língua em relação ao assunto), e não importa se você poupou jogadores na semana anterior ou não. E estes "craques" descansados agora podem sofrer a falta de ritmo de jogo, outra tara de comentarista brazuca que nesses (convenientes) momentos é esquecida, e atrapalhar seus planos tão bem elaborados! E aquele time reserva escalado pelo treineiro, que dá a impressão bem europeia de "elenco qualificado" ao chutador de lata nativo, pode também se estrepar e colocar tudo a perder na outra competição que restaria ao time! Duas competições se liquefazem ao mesmo tempo - uau, que inesperado! O ano inteiro jogado fora por um capricho de três ou quatro jogos! Socorro!

Vou te contar, rapaz...

(Pra terminar: se você fala "Liberta", você tem problema mental.)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Não sei nem o que significa o vocábulo "vocábulo"


Um pequeno glossário do Antimídia com alguns dos termos mais retardados utilizados pela mídia esportiva:

GORDURINHAS - Agora, com o retorno do "Brasileirão", esse que é o campeonato mais disputado do planeta pois entra com quase todos os times candidatos ao título, muito se falará das "gorduras", termo que ouvi pela primeira vez dito pelo sumido Paulo César Vasconcelos, e que dá conta daquele momento, inevitável neste longuíssimo torneio de pontos corridos, nos quais as equipes, que já passam o certame inteiro se arrastando em campo, exageram na frouxidão, passam a perder muitas partidas e só não se complicam ainda mais por ter acumulado pontuação que os distanciam da zona de rebaixamento - as tais "gordurinhas". Aparenta planejamento, coisa que os solertes analistas tanto prezam e cobram em suas inserções, mas mostra apenas o desleixo geral da competição, da forma como é encarada pelos atletas até a forma como é recebida pelo público em geral. Essa gordurinha tá mais é pra anorexia - e o anoréxico não acreditar que seja um doente traz à comparação ainda mais sentido.

JOIA - Nos sites especializados não se fala mais em jogador de base em ou em revelação: fala-se em "joia". Sim, o jogador brasileiro anda tão mimado que no time de juniores o cara já é tratado com essa pompa. E obviamente o novo epíteto só seria ideal se remetesse a valores. A tal "joia" não designa futebol : refere-se, principalmente, à possibilidade de dinheiro em caixa. É a prioridade. Espera-se que essa pedra preciosa já venha lapidada a contento, pois ao clube interessa apenas vendê-la. O colonizador não entregou espelhinho ao nativo da terra como se fosse presente de grande valia? Essa é a vingança tardia do brasileiro: exportar "joias" futebolísticas com valor de latão.

NAMING RIGHTS - Falar deste futebol de 2015 é falar de dinheiro. Portanto, tão corrente quanto os termos "drible" e "gol", agora temos esse, "naming rights", na boca do povo. Dá aparência de 1o. mundo, não dá? Me sinto em uma "arena" europeia, rapaz! Mas trata-se apenas do popular, e me desculpem por usar um termo chulo tão brasileiro, "passar o pires": é meio que um "outdoorzão" que usa não uma placa na rodovia, e sim o nome do estádio. É prática corrente no velho Mundo o tal do "naming rights", o Brasil não pode ficar atrás - e, se bobear, a parasitagem que rodeia o futebol vende até o próprio nome para garantir o burrinho na sombra. Um "Rivelino Nike" ou um "Zico Burger King" hoje em dia já nem me parecem tão absurdos.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Não posso sujar meu terninho de marinheiro


Acho que deve ser automático para certos jornalistas: quando se fala de Casemiro, quase sempre se fala em "ótima fase". Na época de São Paulo, tentaram emplacar por diversas vezes a tal "ótima fase", até que deu que deu: foi mandado embora do time sem se confirmar o "craque" que tantos apregoaram com ares de certeza absoluta. Quando foi ao Real Madrid, no lugar de tentarem entender o inexplicável dessa negociação, passaram novamente a festejar a tal "boa fase" do meio-campista - e o resultado? Foi novamente mandado embora. Agora no Porto, do nada representativo campeonato português e que deu vexame contra o Bayern de Munique na ex-Copa dos Campeões, muitos repetem, exultantes: está em "ótima fase". O destino já parece desenhado, mas a maioria ainda prefere se iludir - e a convocação para a seleção brasileira que disputa a Copa América é mais areia a se esfregar nos olhos (deles, não nos nossos).

Vejo Casemiro com o perfil ideal de jogador da seleção. Volante absolutamente comum, desses que só olham para o lado e nunca para a frente, reúne em si "qualidades" que determinam à perfeição o atleta do futebol moderno: não possui vibração (importante fator para não identificar-se com nenhuma torcida e assim poder pulular livremente de time em time, sem vínculos), é mimado por imprensa e treinadores, se dispõe a fazer tudo que o empresário mandar, gosta de "cuidar do visual" e andar com o cabelinho sempre na última moda (de preferência a trazida diretamente dos gramados ingleses), está mais preocupado em "fazer carreira" do que em jogar futebol de fato... No agrupamento da CBF ele está em casa, afinal quase nenhum da lista de Dunga dispensa as características citadas acima. Alguns por aí, inclusive, abusam do apego a tais peculiaridades, como o tal Paulo Ganso do SP - mas esse é um caso tão extremo que já parece queimado mesmo perante quem não vê problema em tal (falta de) atitude. Casemiro, esse sim, tem feito a lição de casa com aplicação exemplar - basta continuar a acertar passe lateral de 3 metros e a empinar o moicaninho que tá tudo certo.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

É a última vez que me dá vergonha


O cinismo do futebol mercantil assusta até mesmo quem já entendeu parte de seus meandros. Semana passada, nessas caixa de comentários em blog (coisa que não recomendo a ninguém, ler comentários de usuários da Internet, porém vira e mexe faço e me arrependo sempre), um tonto se apresentava como torcedor do Chelsea, disse que não há nada de errado em se torcer para times estrangeiros (a princípio, nada errado mesmo), mas justificou que tomou essa decisão por conta da "corrupção" que toma conta dos clubes brasileiros. Ora, meu filho... Tu me sai com essa e escolhe como seu esquadrão favorito o pioneiro em se lavar a granel dinheiro da máfia russa???? Vai catar coquinho.

Outro dia, inclusive, fui xingado em um blog de cronista esportivo por ter dito, em um comentário, que o tal Hazard nada mais seria que um "Tupãzinho com grife". Vi pouquíssimas vezes esse jogador belga, tenho a certeza de que não me impressionaria nem um pouco se visse com maior atenção (e que a comparação com Tupã seria injusta - para o brasileiro, claro), mas mexer com os "ídolos" dessa molecada é, como se prova continuamente, pior que xingar a mãe.

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Pensava que essa tara por pênaltis fosse coisa exclusiva do claudicante futebol brazuca, mas me enganei - ontem assisti ao primeiro tempo de Arsenal x Chelsea pelo Inglesão e, só naqueles zerados e modorrentos 45 minutos iniciais, houve chiadeira por penalidades TRÊS vezes. Lá como cá: é gente que cai na área e levanta dando chiliques com o juiz, o narrador e o comentarista tornam-se histéricos e acreditam-se com visão além do alcance (isso depois de formarem opinião apenas após uns quatro ou cinco replays da jogada), é um monte de "mão na bola" que viram lances capitais, etc. É uma patologia! Mas, cá entre nós: um dos times entrou com cerca de mil jogadores de meio-campo e nenhum atacante de ofício (centroavante virou peça descartável nesses campeonatos "evoluídos taticamente"); o outro me sai com o tal Giroud (essa boneca aí em cima), francês que claramente serve mais pra tirar foto do que pra pra marcar gol. Numa partida como essa, de "desenho tático" regressivo e postura covarde, só um pênalti mesmo pra tirar o placar do zero.

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Embora o jogo tenha sido melhor do que imaginava a princípio, Santos e Palmeiras me assustou por ver que a arquibancada brasileira já absorve um dos comportamentos mais boçais e inócuos das "arenas" estrangeiras: as palminhas. Ao final de qualquer jogada, não importa se foi um lateral, carrinho, um escanteio, um chute a gol ou algo desimportante: aplaude-se com entusiasmo, reconhecendo generosamente o esforço daquele que suja o uniforme ou até rasga a pele no gramado. O "aplaudir", mais do que esfregar a educação e a polidez da turma endinheirada que agora povoa os estádios na cara daquela gentalha horrorosa e sem dentes que antes estava por ali, é recurso de quem assiste aos jogos sentado. Coisa de quem vai à ópera. Ou ao teatro. Ou a espetáculos de mímica. O futebol deveria ser uma outra coisa.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Pois estava molhado além de morto


Segunda-feira, vemos em destaque nos portais de Internet a incrível goleada do Real Madrid em cima do Granada (quem?), 9 a 0, e, obviamente, com "show" do "melhor do mundo", Cristiano Ronaldo, que marcou 5 tentos. Para muitos, isso atesta a saúde de ferro de um grande clube, este rolo-compressor que massacra quem quer que apareça pela frente - pra gente, amargos como sempre, somente confirma a triste falência desse campeonato que deveria ser oficialmente extinto (pois extra-oficialmente já não existe faz tempo), o espanhol.

Sim, pois um resultado desse é coisa para se lamentar, não merece destaque ou comemorações. É um obituário, a atrasadíssima missa de sétimo dia de um cadáver que há muito já se foi - e que ainda insistem em não velar. Pobres os que enxergam "show" nesse tipo de partida, já que desde o início espera-se uma goleada do gigante, basta apenas resolver o problema do placar, quantos gols teremos dessa vez, e o acuado time pequeno não objetará em momento algum, sua resistência será pífia, apenas aquela protocolar para garantir o emprego da moçada, "fizemos o que pudemos", na verdade não podiam mais do que isso mesmo, o torneio foi construído para que assim o fosse e ninguém parece incomodado, ao contrário, fica a impressão que todos ali se seguram para não aplaudir Cris Ronaldo CR7, estão maravilhados como crianças por estar no mesmo gramado que o "ídolo", queriam ser como o astro das sobrancelhas modeladas porém nada fazem para alcançar tal objetivo além de jogar uma bolinha bem mais ou menos em um clube que oscila todo ano entre primeira e segunda divisões, resta apenas dizer algum dia que jogou contra ele, seja em entrevistas para programas que mostram a vida de ex-boleiros ou em descontraídas churrascadas com os amigos, afirmar que Cris estava "em dia de Maradona", que "era impossível pará-lo", ajudar a construir um mito que não permite desconstrução, contente com sua função de ser um nada na inclemente roda do destino, mas pleno de satisfação por conta da foto que tirou com o craque luso e de ter trocado camisas com ele ao fim do prélio, a sua camisa não se sabe que destino teve, mas a dele... Esta mereceu ser colocada em moldura de vidro e pendurada na sala daquele que um dia foi seu adversário - e que não possui alternativa senão aceitar um 9 a 0 contrário como o maior feito de sua carreira, e ostentar o orgulho da derrota pelo resto da vida.

Fechem esse campeonato espanhol, ainda é tempo!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Sinforoso, um brasileiro


Não é de hoje que o apresentador/radialista Milton Neves faz campanha pela volta do "mata-mata" como fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro (também conhecido como "Brasileirão", aquele campeonato que é o mais forte do mundo - sim, do mundo - pois sempre possui 13 ou 14 times que entram como favoritos, segundo boa parte de nossos solertes analistas). À parte o aparente retrocesso que tal ideia possa representar neste povo que tanto ansiou por ver seu torneio nacional enfim "organizado feito os europeus"; à parte algum (alguns?) interesse (interesses?) comercial que o jornalista possua que possa justificar sua pregação; mas um ponto não tão óbvio, e que de forma alguma esperaria que fosse levantado ou discutido pelos graúdos da imprensa esportiva, me pareceu importante salientar.

Não teria sido apenas isso, claro, outros fatores também influem pesadamente, mas os pontos corridos não teriam contribuído para que o jogador brasileiro se transformasse neste bonequinho de ventríloquo que aí vemos hoje, um burocrata com cartão de ponto em punho, um zero à esquerda que não possui mais qualquer poder de decisão? Um campeonato que rasteja da forma como esse Brasileirão de pontos corridos, talvez até pela inexperiência atávica do atleta nativo com esse tipo de fórmula "europeia", favorece a apatia - esta bem expressa por estes analistas leite-com-pêra de canal pago que cobram das equipes "a formação de bons elencos" e não mais "sangue nos olhos" por parte de quem está em campo (o tal "bom elenco" sempre diminui os riscos, para o bem ou para o mal, além de ser a desculpa perfeita para cozinhar os jogos em fogo brando, deixá-los ainda mais lentos por conta da prévia desculpa da "falta de conjunto", e ajudam a imbuir no profissional um excessivo senso de precaução que aniquila qualquer vitalidade que seu futebol possa apresentar). É como se, mesmo após definido o campeão, não houvesse qualquer emoção até para quem venha a comemorar esse título, pois isso se dá por um acúmulo que torna o imediato desimportante; não se encara cada jogo como um ato fundamental por si só, e sim como parte integrante de um todo que privilegia um "planejamento" metódico e indiferente. O "Brasileirão" lembra muito o personagem interpretado por Franco Nero no filme "Django" (o original), que anda pelo mundo arrastando um caixão preso a uma corda - mas a resolução que o pistoleiro apresenta para dar cabo de suas vítimas é inversamente proporcional à inércia do jogador moderno, esse adepto das "selfies" e das tatuagens porém com sérias dificuldades de acertar passes curtos. E, se a modalidade de disputa não é ela própria o peso morto a ser puxado até o fim do ano, o que esta provocou no futebolista pátrio, que de "irreverente" passou a "indolente" com grande facilidade (e com a constante proteção dos que deviam atacar esse estado de coisas - talvez aí a iniciativa de Neves em ser uma voz contrária mereça elogios), esse sim é um fardo desesperador a se carregar.

Pra se pensar.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Um tostão de minha voz


Aproveito essa segundona para um adendo às últimas postagens: esqueci de citar o mais famoso "falso 9" (ugh) da história, Tostão, que, na copa de 70, foi escalado como tal por conta da abundância de gênios à sua volta e, atuando como o "atacante que flutua" (ugh duplo), deu conta do recado com maestria. E isso feito por Zagalo, técnico longe de ser considerado "revolucionário" (alguma controvérsia envolve a questão, muitos dizem que o mérito não é dele e sim de Saldanha, seu antecessor, que já colocava o "Mineirinho de Ouro" à frente junto de Pelé durante as eliminatórias para o Mundial - mas o Velho Lobo comandava o time em 70, e só de não ter dado asas à vaidade de comandante e escalado o Brasil com o que tinha de melhor - e o que é mais importante: sem atrapalhar - já faz por merecer o afago da história). Sim, isso mesmo que você leu acima: Tostão foi escalado como centroavante não para "confundir a marcação" ou "segurar os zagueiros" (o blablablá enfadonho típico dos "professores" atuais ainda era incipiente e daria as caras de forma definitiva um pouco mais à frente, na segunda metade da década de 70, com o falecido Claudio Coutinho), e sim para que tivéssemos espaço para que ele e outros sujeitinhos aí, uns tais de Rivelino, Gérson e Jairzinho, pudessem atacar sem restrições. Uau! Se você, a fuçar na Internet pelos últimos gols de Gareth Bale com a mão cheia de resto de Cheetos, ainda acha que Guardiola e Tite são os responsáveis por essa invenção tática fabulosa, essa ousadia teórica sem precedentes, saiba que tanto eles quanto você estão 45 anos atrasados.

(Ainda antes do título de 70, a história diz que Hidekguti, camisa 9 da seleção húngara dos anos 50, um dos maiores times já formados e de ponta a ponta um esquadrão autenticamente revolucionário, também não jogava fixo, para assim abrir espaço às investidas fulminantes de Puskas e Kocsis - mais uma prova de que a memória de um esporte pra lá de centenário é subvertida em nome da publicidade existencial furreca dos anos vigentes.)

sexta-feira, 27 de março de 2015

Eu estou falando do dever... Das obrigações!


Jogamos essa ideia do fim do centroavante aqui mesmo, neste blog, já há algum tempo - se não me engano, no momento da "explosão" de Alexandre Pato (este que, provando não ser necessário grande alcance de visão para tanto, já cravávamos ser fogo de palha). Mas hoje encontro gente que, em nome de uma pretensa "evolução tática", prega como normalíssima a substituição dos antigos "center-forwards" por meias e mais meias, ou, por que não, por "alas" - mas lhes pergunto, caros amigos: existe realmente evolução quando se exclui de uma equipe de futebol quem anota seus gols? É difícil aceitar tanto conformismo, mas ele está aí, a quem quiser fazer uso, lambuzar-se até, disfarçado de "estudo tático".

Quantos centroavantes de ofício restam no futebol de hoje? Goleadores mesmo, sem medo, que peitam zagueiros, brigam, olham para o gol quando estão de posse da bola, chutam de onde estão virados, cabeceiam, que ali estão com a função de fazer gols e não "marcar saída de bola" ou "impedir o avanço dos laterais"? De projeção internacional, apenas o uruguaio Suárez. No Brasil, somente o peruano Guerrero, aos trancos e barrancos, sobrevive - farsas como Jô ou Tardelli tiveram ascensão injustificada porém, como esperado, fôlego bastante curto. Já se aceitam naturalmente times sem o 9 (o Corinthians recentemente promoveu, com aplausos, o eficiente porém pesadíssimo Danilo a seu "homem de referência", e assim Tite, após a partida, foi aclamado como "treinador de grande visão") - ou, se quisermos ser um pouco mais diretos, aceitam-se times sem ataque. O futebol de sofá triunfa mais uma vez: as "mesas táticas" dos comentaristas, essas que tratam os atletas feito robôs e que excluem do jogo qualquer possibilidade de espontaneidade (em minha ultrapassada visão romântica eu ainda espero alguma), tornam-se tão importantes quanto o placar, fazem do técnico um Deus, da disposição de seu time em campo, a verdadeira tábua dos mandamentos. Enquanto isso, resultados minguados tipo 1 a 0 pululam por aí - mas, se tal raquitismo numérico puder ser explicado através do linguajar tão valorizado pelos cronistas, esse das "linhas de 4" ou das "gestões de equipes", não fará diferença alguma. Assunto não vai faltar.

Abro o site UOL agora de manhã, e a capa do periódico virtual festeja: "plano de Dunga para enterrar o clássico camisa 9 funciona" (graças a uma vitória do selecionado empresarial brazuca em amistoso boca-mole disputado acho que ontem, não sei em qual horário e sequer em qual país). Fala-se de tática, não fala-se de craques: eis uma legítima manchete do futebol 2015.

terça-feira, 10 de março de 2015

Dá pra ver que o senhor tá fora da onda


Procure aí, é uma mania que se alastra desde a criançada "expert" em futebol de hoje em dia aos comentaristas mais respeitáveis: superou-se o desenho tático (expressão que, utilizada a contento, empresta a qualquer um o vulto de "especialista") simples e direto de um 4-3-3 ou o tão batido 4-4-2, estes já cheirando a mofo, antigos, inertes, inexpressivos; agora temos uma festa de números para explicar como os times se postam em campo, coisas tipo 4-2-1-2-1 ou 3-2-2-1-1-1, ditas preferencialmente com gestos estilo Paulo Calçade, que usam as mãos e o dedo indicador para explicar a movimentação dos atletas em seu vem e vai para "marcar os laterais" e "fazer a parede" (termos estes também bastante utilizados pela molecada no recreio das escolas). É "falso 9" pra cá, é "time compacto" pra lá... Parece que o Barcelona de alguns anos atrás fez o futebol enfim nascer; tudo que veio antes é natimorto e apenas preparou o terreno para esse esquadrão revolucionário.

Ô rapaziada, desculpem essa minha mesquinha tentativa de estragar seus sonhos molhados, mas não foi o Guardiola que inventou isso não! Não foi o Pep que institui o "atacante que flutua" ou essa obsessão freudiana de treinador brasileiro, a de "recompor o meio-campo". A Holanda de 74 se notabilizou também por seus craques não guardarem posições fixas, não sei se vocês sabem; até mesmo a Hungria de 54 entrou para a história com a junção de força ofensiva e inovação tática - e o abismo que separa as duas épocas é exatamente esse: a preocupação antigamente ela colocar o time à frente, a busca de um resultado, ATACAR (palavra sumida do noticiário esportivo de uns anos pra cá, e que merece ser escrita com maiúsculas); a de agora é o pragmatismo sem cara herdado do mundo corporativo, a agonia sem fim do "domínio de bola" para "gerar resultados". Nessa, Rinus Michels foi derrotado por Carlos Parreira - e Guardiola, assim como o tão badalado brazuca Tite, quer vocês queiram quer não, é uma variação deste último, e não do primeiro (portanto, é hora de aceitar que de revolucionários nada possuem).

Sem contar que time abolir centroavante em favor de jogadores "táticos", essa balela de "meia-cancha congestionada" que faz brilhar os olhinhos dos treineiros de discurso empolado e apaixonados por volantes de cá, combinemos, são opções que nada tem de arrojado: apenas evidenciam a covardia e a falta de sentido do inofensivo futebol moderno, esse que não quer ver "organização" e "ousadia" tornarem-se sinônimos - há de sempre privilegiar-se a primeira; o que possa surgir em função disso é consequência, como diria Carlos Parreira, campeão do mundo em 94. A não ser que você considere "ousado" um meio-de-campo que troca passes ad infinitum e que estatísticas de posse de bola sejam mais significativas que o de tentativas a gol...

Tio Cruyff tá lá, rindo a valer dessa frescurada teórica.