quarta-feira, 29 de julho de 2009
Histórias da Carochinha
Bom, um dia chegou o momento que todos os que o assessoravam haviam se preparado desde o início: nosso "craque" é comprado pelo Barcelona. Lavem-se as almas, para podermos entregá-las limpinhas e engomadas ao demônio! A partir daí, todos repetiam que ele era fantástico, o maior de todos, um Deus dos gramados; as inúmeras propagandas que estrelou também o diziam. Ganhou alguns títulos, entre eles o da Copa dos Campeões da Europa, sem precisar fazer nada mais do que correr ou mesmo ali estar para ser o "melhor em campo". Isso mesmo: a lavagem cerebral estavã tão bem feita que ele era o melhor em campo mesmo se errasse tudo o que fizesse! Os ídolos modernos não precisam ser: precisam parecer. Se ele aparentava ser craque, gênio até, com seus passes sem olhar (que geralmente não davam em nada, mas isso a TV cortava) ou com suas risadas depois de perder lances fáceis (não é irresponsabilidade, é alegria, todos diziam) era o que realmente importava. Isso ficava bonito quando editado nos melhores momentos do futebol do fim-de-semana em qualquer programinha dominical.
Mas então chegou o Lobo Mau da nossa história: de repente, tudo acabou. Parece que essa vida extra-futebol, de mulherada no pé, puxa-sacos a rodo e propagandas de tudo que é produto eram realmente a prioridade em sua vida - e o preço, cedo ou tarde, é cobrado por aquele de chifres e tridente que já havia guardado a sua alma numa gaveta. Ele passou a não fazer nada em campo. Errava passes, ficava parado, não tinha mais condições de desempenhar o mais simples. Mesmo aqueles que o idolatravam viram a máscara cair. Foi, talvez, a mentira de menor duração da história do futebol brasileiro: uns 3 ou 4 anos, no máximo, e tudo esvaneceu-se. O Milan fez papel de besta e contratou o indivíduo, e paga a ele o 6o. maior salário do mundo entre os esportistas. Isso: gastam uma fortuna com um atleta que mal possui condições de ser reserva! Mas muitos ainda apostam que ele irá se recuperar, e que voltará com tudo para a seleção. Bom, ainda tem gente que acredita em mula-sem-cabeça e em saci-pererê... Porquê não no retorno dele?
Se você acertar quem é, ganha meus parabéns.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Os Cristos também são de plástico
Verei se amanhã posto aqui algo semelhante sobre outro jogador dessa mesma geração, e que se afundou no marasmo de uma carreira já definida como extraordinária aos 25 anos de idade e que a excessiva leniência e "malandragem brasileira" (afora, claro, toneladas de sacos plásticos abarrotados com dinheiro) sepultaram em definitivo algo que, a nosso ver, nunca foi nem um décimo do que se vomitava torrencialmente por aí. Ou, como dizia a música genial do genial Falcão, "O Amor que Antes de Ser Já Era". É bem por aí.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
O Fenômeno de um eclipse forjado
O problema não é o futebol do jogador em si, repito. Para mim, trata-se de um atacante competente - o que não é pouco. Discutível são o exagero explícito da mídia e a alienação conseqüente. Nas semifinais do estadual desse ano, ficou evidenciado o quão irregular Ronaldo pode ser: no Pacaembu, teve duas atuações fracas, participando, com muito esforço, de poucas jogadas e perdendo gols; enquanto que na outra metade dos jogos ele foi essencial. Na partida da Vila Belmiro, seus gols foram vendidos como obras de alguém do calibre do próprio Rei do Futebol, que presenciava a partida. O “mundo inteiro” se rendia novamente! Uns dos poucos equilibrados foi Fernando Calazans: "cresci vendo gols assim aos montes. Pra garotada que hoje não vê isso com tanta facilidade, foi legal". Mais do que correto, foi gentil. Para citar exemplos atuais, foi um gol a lá Palermo contra o Atlas pela Libertadores de 2008, ou tão cirúrgico quanto outro gol de cobertura marcado naquele mesmo domingo por um brasileiro de nome Maxwell (?), na final da Copa da França, disputada no estádio de Saint Dennis – que, aliás, Ronaldo conhece muito bem (ou não tão bem, quer dizer). É a escolha pela parcialidade escancarada, porém necessariamente disfarçada. E com títulos conquistados, a coisa flui de maneira muito mais segura.
Ronaldo disputou, efetivamente, três Copas do Mundo – em 1994, ele foi tão campeão quanto Zetti, Gilmar ou Ronaldão. Sua trajetória nos mundiais serve, também, para analisar sua inconstância: na França, em 1998, ele chegava condecorado pela FIFA com dois títulos de melhor jogador do mundo; todos se curvavam ao talento inigualável daquele menino. Mesmo assim não trouxe o título, nem foi o artilheiro – decepção igual a que viveu semanas antes, na liga italiana (a, então, mais difícil da Europa), onde o atacante alemão Bierhoff se consagrava anotador máximo, atuando pela Udinese. Surgiram, então, os primeiros sinais de que seu corpo não agüentaria a carga que impuseram àquele que servira de molde ao “jogador do futuro”, segundo uma declaração (Placar, 1995) do preparador físico J.L. Runco - que ajudou a transformar o franzino menino dos tempos de Bento Ribeiro, numa descontrolada locomotiva. A recuperação se daria no mundial mais fraco da história, onde Ronaldo foi artilheiro e campeão – embora seu desempenho não fugisse da normalidade de um goleador nato. Passou em branco justamente na partida mais dura da campanha (Inglaterra), e ainda ganhou um gol de presente (onde sequer tocara na bola, contra a Costa Rica), novamente, da dona FIFA. Para a mídia, Ronaldo era “Pelé”, e Rivaldo era “Jairzinho”. A opinião pública, como sempre, engolia o que era forjado. Ali o processo do eclipse se acelerou novamente, embora seu desempenho continuasse o mesmo nos anos seguintes: ganhou taças e prêmios, mas nunca conseguiu, por exemplo, sucesso na maior competição do continente – mesmo atuando em clubes como Real Madri e Milan. Na Copa de 2006, Ronaldo era anunciado como o “rei dos reis” daquela “imbatível” seleção. No final, o fracasso de um time descompromissado e passivo não atingiu o Fenômeno, que se tornara o maior anotador de pontos da história das Copas – que, por sinal, parecia o único objetivo do jogador nos gramados germânicos. Sua atuação inexpressiva contra a França (novamente na partida mais importante da competição) se tornaria aceitável, pelo tratamento da mídia. Resumindo: ele foi mediano na primeira, eficiente na segunda e decepcionante na terceira. As coisas definitivamente mudaram. Na Copa de 1986, Zico perdeu o pênalti mais importante de sua carreira, contra os mesmos franceses. Mesmo consagrado e vitorioso, não ficou isento de duras críticas: "será que ele deveria ter disputado mais essa Copa?", "deveria ter batido o pênalti?", etc, etc, etc. As críticas ao Galinho nunca iriam manchar seu legado. A falta delas em relação a Ronaldo garante a continuidade de uma lenda mais do que duvidosa. Quando se enterra algo tão essencial assim, é porque algo está errado.
O futebol sempre exigiu essa veia implacável do julgamento público. Você cobrava um ídolo quando ele errava, principalmente quando ele era bom. Por isso, também, o futebol sempre evoluiu na linha do tempo de uma maneira natural. Até que, covardemente, inventaram o futebol mercantilizado, onde se pode errar e falhar à vontade. A imagem dos atletas gera oceanos de dinheiro, e não é mais o nível do futebol apresentado por eles que determina os aplausos e apupos. Sem questionamentos, o futebol “sobrevive” como um grande e bestial açougue: amacia e depois perfura. Hoje à noite, veremos mais um capítulo desta saga fenomenal, que não tem prazo para acabar. Pode ser um dia dos “bons”, dos “ruins”, ou de uma simples urinada às pressas no meio do gramado, tanto faz. Essa é a beleza de um eclipse: nas sombras ou na luz, seu efeito emociona e substitui a falta de razão, de questões. Fiquemos atentos, pois.
terça-feira, 21 de julho de 2009
Lugares-comuns
Aliás, o que temos de comentarista-mauricinho por aí atualmente não é fácil. Os comentaristas de botequim, estilo Juarez "China" Soares, sumiram. O que dá emprego agora, em especial nos canais pagos, é saber decorar número. Se você sabe de cor as estatísticas de um jogo do campeonato goiano (o popular "goianão") de dez ou doze anos atrás, pode candidatar-se a uma vaguinha nas SporTVs da vida. Também é necessário repetir denominações exclusivas do futebol moderno, como "ala", "assistência", "meia-atacante" e coisas nessa linha. Nem o comentarista permite-se mais suar com o jogo hoje em dia. Tudo tem de ser asséptico. Os caras realmente passionais foram limados do vídeo, em troca de verdadeiras máquinas de frases feitas, com seus camisas bem passadas e carinhas de bons meninos. Eita mundinho despersonalizado e sem culhão esse da presente década...
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Torcedores x HDTV
O fato a seguir é real e está acontecendo cada vez com mais freqüência e intensidade. Pior: responde a uma cultura importada da Europa, onde o torcedor é mais bem visto no sofá de casa do que nas arquibancadas dos campos. No país pentacampeão mundial de futebol assim é tratado o torcedor, o cidadão comum, o ser humano.
Meu primo Sérgio tem 43 anos e torce para o São Paulo há quase trinta. Mas há um bom tempo parou de acompanhar o futebol como antes o fazia. Ele também já percebeu que a essência do jogo morreu, mas sua ausência está mais ligada ao fato de que ele não tem mais condições para se dedicar ao futebol, como em seus tempos de “Juventude Tricolor” - torcida que tinha a sede no bairro da Mooca, e que com ela percorreu vários estados atrás de seu time. Além disso, Sérgio era fã de boa música: durante os anos 80, assistiu os concertos do Kiss, Queen, Ozzy Osbourne, Iron Maiden, Whitesnake, AC/DC, entre outros. Portanto, além de conhecer futebol, ele certamente sabe como funcionam os grandes eventos culturais. Será mesmo? Neste final de semana, ele recebeu a visita de uma família de amigos vinda de Brasília, e o programa era assistir o clássico contra o Santos, no estádio que daqui a cinco anos estará sediando a partida inaugural de mais uma “Copa do Mundo”. Ele saiu de casa cedo e chegou ao estádio às 13 horas e 30 minutos, onde encontraria o restante do grupo – portanto, restavam 2 horas e meia para o pontapé inicial. Inútil, pois as bilheterias haviam sido fechadas ao meio dia, segundo informou um daqueles cidadãos que vestem uma roupa com a inscrição de “Orientador”. Desorientado e chocado, Sérgio rumou até o portão principal do clube. Um funcionário o informou que o procedimento atendia as ordens da polícia militar, que pretendia evitar tumultos antes de uma partida de risco, como eles adoram denominar. Próxima parada: um sargento que se postara a alguns metros de onde um grupo de cambistas vendia entradas livremente. Uma vez mais, Sérgio não encontrou nenhum esforço para que a sua situação se resolvesse. Questionou sobre a venda indevida de ingressos, e recebeu a seguinte resposta: "preciso de um flagrante e uma denúncia formal, onde deve constar o autor da mesma. Se você comprar um ingresso de algum deles, poderemos agir”. A última tentativa foi com um repórter que, após ouvir o caso, disse que não havia tempo para tal pauta, e entrou sorrindo nas dependências do clube que Sérgio tanto defendera – e que continua sendo apontado pelos principais veículos de comunicação como um grande exemplo de administração esportiva. A passividade de todos não deixou outra opção: ele ligou para os amigos repassando a péssima notícia, que, por sua vez, deixou as crianças que vieram de tão longe, ávidas pelo domingo de futebol, com seus corações certamente mais tristes e vazios. O de meu primo pegava fogo de raiva, e ele foi embora para casa, se sentindo um escravo isolado pelos muros que a censura e a incompetência haviam levantado nestes anos. Era realmente uma partida de muitos riscos.
No caminho de volta, envolto em melancolia, Sérgio percebeu que não basta mais amor ao clube e vontade de ir ao estádio. Hoje, você tem que se enquadrar e aceitar tudo, de cabeça baixa: os preços astronômicos das entradas, os horários imbecis dos jogos, a complacência daqueles que são pagos por você mesmo para cumprir determinadas funções – isso sem mencionar a mediocridade dos jogadores. O estádio ficou vazio durante o prélio, o que faz acreditar que os sofás estavam “abarrotados” por toda a cidade. É o dinheiro de um torcedor sendo trocado pelas quantias pagas pelos assinantes dos canais privados. Quase em nada lembrava aqueles clássicos que ele assistiu quando ainda acreditava no futebol. No dia seguinte, o Globo Esporte afirmou, sem deixar espaço para qualquer questionamento, que a falta de gente era culpa das campanhas ruins que ambos os times vinham realizando no campeonato – de maneira despudorada e descontraída, como sempre funcionou o Império da mentira. Crianças apareceram na matéria, para deixar claro que as famílias estavam de volta aos estádios. E como vivemos num país onde resistir vale menos do que um doce, podemos esperar o agravamento dessa situação até 2014. Como diz meu amigo Bury: socorro!
sábado, 18 de julho de 2009
Tava ruim, mas tava bom
Nunca pensei que fosse ter tanta saudade de um cara como esse, ou mesmo dessa época num todo. Claro, foi quando as coisas começaram a entortar de vez; mas ainda era necessário se apresentar um futebol acima da média para chegar a um clube gigantesco como o Real. Hoje, vemos por lá um tal de Marcelo, jogador que mal chegou a se firmar como titular no Fluminense, e que, não se sabe porquê, foi para a esquadra merengue para ser o substituto de Roberto Carlos. As situações de ambos até rendem comparação: enquanto este último foi para a Europa já consagrado como lateral do Palmeiras e como titular da Seleção, o primeiro fez o caminho inverso, e busca se aparecer para os brasileiros atuando por um time de fora. E trata-se de um atleta burocrático, nada mais. O padrão do futebol brasileiro, hoje, são os Marcelos, e não os Sávios (caramba, olha o que estou dizendo!). Um driblinho ou uma jogada de efeito - ou até mesmo um VT caprichado - já serve para tirar qualquer um daqui, rumo ao superestrelato. Qualquer um mesmo, cabeças de bagre, gente que mal sabe os fundamentos básicos do esporte. Felipe Melo na Juventus, Maxwell (quem?) no Barcelona, Maicon na Inter de Milão... Um cenário que chega a dar desespero. É a definitiva vitória da mediocridade.
A temporada de caça dos times europeus já está aberta. Dela, podemos esperar cada vez mais aberrações.
terça-feira, 14 de julho de 2009
Dito e (mal) feito
E uma negociação dessas pede, exige, implora uma investigação mais aprofundada. Um sujeito que nunca representou nada para clube nenhum, e que continua a apresentar um desempenho não mais do que razoável dentro das quatro linhas, não pode chegar a titular de uma seleção brasileira e a reforço dourado de um dos maiores times do mundo sem que diversos interesses não estivessem em jogo. Mas o triste de tudo isso é que os que deveriam escancarar as tramóias tem o rabo tão preso quanto os que as perpetuam. Pobre futebol.
sábado, 4 de julho de 2009
Passa a salada!
Bury, não adianta. Vou apenas vomitar algumas das faces. Não tenho saco pra analisar situações atuais no mundo das fábulas. Se alguma coisa merecer, vou falar. Ainda bem que lá vem Juve! Ser torcedor é a última coisa que ainda vale.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
O circo está na cidade
Dois dias depois, na terça-feira, em um desses miseráveis programas esportivos da hora do almoço (não, não vou dizer que era o da Renata Fan, o esgoto da crônica futebolística brasileira), o GC dizia, enquanto um sujeito esbravejava, as veias do pescoço saltadas: "Ulisses Costa afirma que Ronaldo irá atropelar o Inter". Nessa inocente frase, o que foi dito aí em cima se repetia, dessa vez em relação a um clube: trocava-se o nome do time pelo nome de um atleta. Não é o Corinthians que irá atropelar o Inter, é Ronaldo quem o fará. Atribui-se uma maior importância ao jogador do que ao clube. Uma instituição centenária é preterida em favor de um sujeito que lá está há pouco mais de seis meses. O "eu" é mais valorizado que o "nós", que o coletivo, até mesmo por aqueles que deveriam combater esse putrefato estado de coisas. Aí estão, a nu, os nossos "formadores de opinião" - e, se as coisas agora são assim, o futuro que se prenuncia é aterrador. Socorro!