quarta-feira, 29 de julho de 2009

Histórias da Carochinha

Era uma vez um jogador revelado no sul do país. Ele, como todos os atletas brasileiros incensados já no berço, tinha como meta buscar biscoitinhos da vovó lá longe, na Europa. Não importa o time: tudo era preparado para que o céu fosse o seu limite, à imagem e semelhança (física, inclusive) de um outro que surgiu antes dele e que alcançou as glórias do superestrelato mesmo se não movesse um dedo quando dentro dos gramados (meu camarada Toro descreveu com propriedade a carreira desse outro aí embaixo). Pois assim foi: ele primeiro abandonou o Grêmio, de maneira espúria, já demonstrando que seu compromisso moral não ia além do status e de um gordo contracheque, e foi para o Paris Saint-Germain, clube que usaria apenas como escada para algo maior. Lá, ele virou o gênio dos video-tapes: sempre que chegava de Paris alguma "proeza" sua, era picotada; apenas podíamos ver imagens de um drible aqui e outro acolá, nunca nada que nos pudesse dar a real dimensão do seu talento ou de sua capacidade para decidir alguma partida. Mas brasileiro é assim mesmo: se existem rumores vindos do exterior, ele acredita, engole na hora, sem ao menos refletir. Afinal, a informação vinha do "primeiro mundo", não?

Bom, um dia chegou o momento que todos os que o assessoravam haviam se preparado desde o início: nosso "craque" é comprado pelo Barcelona. Lavem-se as almas, para podermos entregá-las limpinhas e engomadas ao demônio! A partir daí, todos repetiam que ele era fantástico, o maior de todos, um Deus dos gramados; as inúmeras propagandas que estrelou também o diziam. Ganhou alguns títulos, entre eles o da Copa dos Campeões da Europa, sem precisar fazer nada mais do que correr ou mesmo ali estar para ser o "melhor em campo". Isso mesmo: a lavagem cerebral estavã tão bem feita que ele era o melhor em campo mesmo se errasse tudo o que fizesse! Os ídolos modernos não precisam ser: precisam parecer. Se ele aparentava ser craque, gênio até, com seus passes sem olhar (que geralmente não davam em nada, mas isso a TV cortava) ou com suas risadas depois de perder lances fáceis (não é irresponsabilidade, é alegria, todos diziam) era o que realmente importava. Isso ficava bonito quando editado nos melhores momentos do futebol do fim-de-semana em qualquer programinha dominical.

Mas então chegou o Lobo Mau da nossa história: de repente, tudo acabou. Parece que essa vida extra-futebol, de mulherada no pé, puxa-sacos a rodo e propagandas de tudo que é produto eram realmente a prioridade em sua vida - e o preço, cedo ou tarde, é cobrado por aquele de chifres e tridente que já havia guardado a sua alma numa gaveta. Ele passou a não fazer nada em campo. Errava passes, ficava parado, não tinha mais condições de desempenhar o mais simples. Mesmo aqueles que o idolatravam viram a máscara cair. Foi, talvez, a mentira de menor duração da história do futebol brasileiro: uns 3 ou 4 anos, no máximo, e tudo esvaneceu-se. O Milan fez papel de besta e contratou o indivíduo, e paga a ele o 6o. maior salário do mundo entre os esportistas. Isso: gastam uma fortuna com um atleta que mal possui condições de ser reserva! Mas muitos ainda apostam que ele irá se recuperar, e que voltará com tudo para a seleção. Bom, ainda tem gente que acredita em mula-sem-cabeça e em saci-pererê... Porquê não no retorno dele?

Se você acertar quem é, ganha meus parabéns.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Os Cristos também são de plástico

Hoje correu por aí a notícia da contratação de Emerson pelo Santos. Esse é um daqueles jogadores alçados a estrelas não se sabe como, que manteve o status de jogador imprescindível para a meia-cancha das equipes nas quais jogava (também é um mistério o porquê de isso ter acontecido), e que defendeu equipes do porte de Roma, Milan, Juventus de Turim e Real Madrid. Se apresentássemos esse currículo a qualquer agremiação ao redor do mundo, ele já passaria de desempregado a capitão do time em um piscar de pestanas. Um video-tape caprichado das "grandes" jogadas do ex-10 gremista também cairia bem para selar a monumental tapeação. Agora, eu tento vasculhar a minha memória em busca de algo marcante que esse sujeito tenha feito em todos os históricos times que envergou a jaqueta, e nada vem à mente além de botinadas, passadas desengonçadas, braços abertos desferindo cotovelaços, passes pingados e quadradões, calções sujos depois de 90 minutos devido a tantas vezes que seu traseiro tentou limpar a lama do gramado tal e qual um pobre pano de chão... E mais nada. Lances de categoria? Não me recordo de nenhum. Jogadas de efeito? O que é isso? Decisão de partidas? Não, não com ele. E o que fica, nessa minha cabeça cuja memória ainda tenta (e quase não consegue) me deixar um tiquitinho lúcido para encarar um mundo tão cheio de estímulos visuais aberrantes e grosseiros, de ídolos de plástico grátis na compra do McLanche Feliz e de hipocrisias asquerosas disfarçadas de verdades absolutas: Emerson, volante da seleção brasileira e atleta experimentado nas maiores equipes do Velho Mundo, me perdoem, simplesmente não é nada.

Verei se amanhã posto aqui algo semelhante sobre outro jogador dessa mesma geração, e que se afundou no marasmo de uma carreira já definida como extraordinária aos 25 anos de idade e que a excessiva leniência e "malandragem brasileira" (afora, claro, toneladas de sacos plásticos abarrotados com dinheiro) sepultaram em definitivo algo que, a nosso ver, nunca foi nem um décimo do que se vomitava torrencialmente por aí. Ou, como dizia a música genial do genial Falcão, "O Amor que Antes de Ser Já Era". É bem por aí.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Fenômeno de um eclipse forjado

A partida entre Corinthians e Cruzeiro, neste último domingo, deixou clara uma característica que marcou toda a carreira de Ronaldo, mesmo no “auge” de seu desempenho esportivo: a capacidade de alternar jogadas excelentes e outras medíocres – inadmissíveis para quem carrega a alcunha de “gênio/ícone/referência do futebol”, proferida à exaustão pelos homens do microfone. E límpido também ficou, uma vez mais, o tratamento da grande mídia, mais do que parcial, ao tal Fenômeno: masturbação de seus momentos bons, e diminuição da importância das suas deficiências – quando não ignoradas, como o fez o SPTV que anunciava, “só deu ele!”, mas, claro, ignorava o pênalti desperdiçado e o lance que o originou (quando o atacante perdeu um gol sem goleiro - o que antigamente seria motivo, mais do que justo, para piadas). É como o eclipse, onde o lado "bom" já basta para vendê-lo como se fora um deus intocável, enquanto que o lado "ruim" a televisão sempre dá um jeito de mascarar, esconder. Ultimamente as desculpas estacionam no peso do atleta (que não parece ter mudado muito, contrariando as “competentes” previsões do início do ano, lembram?), a falta de ritmo (sempre essa!), a readaptação, aos “companheiros que não entendem” um passe errado dele, ao seu passado glorioso, etc, etc, etc. Há treze anos, as desculpas encontravam perfeita explicação na inexperiência, uma ocasional falta de sorte, no seu futuro que, certamente, seria glorioso (e dá-lhe Mãe Dinah!), etc, etc, etc. Deus não falha, não erra, não peca.

O problema não é o futebol do jogador em si, repito. Para mim, trata-se de um atacante competente - o que não é pouco. Discutível são o exagero explícito da mídia e a alienação conseqüente. Nas semifinais do estadual desse ano, ficou evidenciado o quão irregular Ronaldo pode ser: no Pacaembu, teve duas atuações fracas, participando, com muito esforço, de poucas jogadas e perdendo gols; enquanto que na outra metade dos jogos ele foi essencial. Na partida da Vila Belmiro, seus gols foram vendidos como obras de alguém do calibre do próprio Rei do Futebol, que presenciava a partida. O “mundo inteiro” se rendia novamente! Uns dos poucos equilibrados foi Fernando Calazans: "cresci vendo gols assim aos montes. Pra garotada que hoje não vê isso com tanta facilidade, foi legal". Mais do que correto, foi gentil. Para citar exemplos atuais, foi um gol a lá Palermo contra o Atlas pela Libertadores de 2008, ou tão cirúrgico quanto outro gol de cobertura marcado naquele mesmo domingo por um brasileiro de nome Maxwell (?), na final da Copa da França, disputada no estádio de Saint Dennis – que, aliás, Ronaldo conhece muito bem (ou não tão bem, quer dizer). É a escolha pela parcialidade escancarada, porém necessariamente disfarçada. E com títulos conquistados, a coisa flui de maneira muito mais segura.

Ronaldo disputou, efetivamente, três Copas do Mundo – em 1994, ele foi tão campeão quanto Zetti, Gilmar ou Ronaldão. Sua trajetória nos mundiais serve, também, para analisar sua inconstância: na França, em 1998, ele chegava condecorado pela FIFA com dois títulos de melhor jogador do mundo; todos se curvavam ao talento inigualável daquele menino. Mesmo assim não trouxe o título, nem foi o artilheiro – decepção igual a que viveu semanas antes, na liga italiana (a, então, mais difícil da Europa), onde o atacante alemão Bierhoff se consagrava anotador máximo, atuando pela Udinese. Surgiram, então, os primeiros sinais de que seu corpo não agüentaria a carga que impuseram àquele que servira de molde ao “jogador do futuro”, segundo uma declaração (Placar, 1995) do preparador físico J.L. Runco - que ajudou a transformar o franzino menino dos tempos de Bento Ribeiro, numa descontrolada locomotiva. A recuperação se daria no mundial mais fraco da história, onde Ronaldo foi artilheiro e campeão – embora seu desempenho não fugisse da normalidade de um goleador nato. Passou em branco justamente na partida mais dura da campanha (Inglaterra), e ainda ganhou um gol de presente (onde sequer tocara na bola, contra a Costa Rica), novamente, da dona FIFA. Para a mídia, Ronaldo era “Pelé”, e Rivaldo era “Jairzinho”. A opinião pública, como sempre, engolia o que era forjado. Ali o processo do eclipse se acelerou novamente, embora seu desempenho continuasse o mesmo nos anos seguintes: ganhou taças e prêmios, mas nunca conseguiu, por exemplo, sucesso na maior competição do continente – mesmo atuando em clubes como Real Madri e Milan. Na Copa de 2006, Ronaldo era anunciado como o “rei dos reis” daquela “imbatível” seleção. No final, o fracasso de um time descompromissado e passivo não atingiu o Fenômeno, que se tornara o maior anotador de pontos da história das Copas – que, por sinal, parecia o único objetivo do jogador nos gramados germânicos. Sua atuação inexpressiva contra a França (novamente na partida mais importante da competição) se tornaria aceitável, pelo tratamento da mídia. Resumindo: ele foi mediano na primeira, eficiente na segunda e decepcionante na terceira. As coisas definitivamente mudaram. Na Copa de 1986, Zico perdeu o pênalti mais importante de sua carreira, contra os mesmos franceses. Mesmo consagrado e vitorioso, não ficou isento de duras críticas: "será que ele deveria ter disputado mais essa Copa?", "deveria ter batido o pênalti?", etc, etc, etc. As críticas ao Galinho nunca iriam manchar seu legado. A falta delas em relação a Ronaldo garante a continuidade de uma lenda mais do que duvidosa. Quando se enterra algo tão essencial assim, é porque algo está errado.

O futebol sempre exigiu essa veia implacável do julgamento público. Você cobrava um ídolo quando ele errava, principalmente quando ele era bom. Por isso, também, o futebol sempre evoluiu na linha do tempo de uma maneira natural. Até que, covardemente, inventaram o futebol mercantilizado, onde se pode errar e falhar à vontade. A imagem dos atletas gera oceanos de dinheiro, e não é mais o nível do futebol apresentado por eles que determina os aplausos e apupos. Sem questionamentos, o futebol “sobrevive” como um grande e bestial açougue: amacia e depois perfura. Hoje à noite, veremos mais um capítulo desta saga fenomenal, que não tem prazo para acabar. Pode ser um dia dos “bons”, dos “ruins”, ou de uma simples urinada às pressas no meio do gramado, tanto faz. Essa é a beleza de um eclipse: nas sombras ou na luz, seu efeito emociona e substitui a falta de razão, de questões. Fiquemos atentos, pois.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Lugares-comuns

Neste país, que se proclama "do futebol", um lugar-comum dos mais imbecis tem enchido a boca dos nossos preguiçosos analistas: quando acontece algum lance polêmico (em especial erros estúpidos de arbitragem, coisa mais do que comum no "Brasileirão"), sempre vem algum panaca para dizer que "é por isso que o futebol é apaixonante". Ora, macacos me mordam: alguém por aí começou a gostar de futebol por conta de juízes ladrões? Você, por acaso, gosta do esporte porque nele pode-se ver os árbitros roubando à vontade? Você diverte-se e se farta não quando acontece um gol ou uma jogada de efeito, mas sim quando os bandeiras desandam a meter a mão? Claro que não, né? Então, se vier nos falar, feito um papagaio, que o futebol só tem graça por ser tão sujeito a dúvidas, madaremos-lhe solenemente à merda. Sinto muito, mas você não entendeu nada.

Aliás, o que temos de comentarista-mauricinho por aí atualmente não é fácil. Os comentaristas de botequim, estilo Juarez "China" Soares, sumiram. O que dá emprego agora, em especial nos canais pagos, é saber decorar número. Se você sabe de cor as estatísticas de um jogo do campeonato goiano (o popular "goianão") de dez ou doze anos atrás, pode candidatar-se a uma vaguinha nas SporTVs da vida. Também é necessário repetir denominações exclusivas do futebol moderno, como "ala", "assistência", "meia-atacante" e coisas nessa linha. Nem o comentarista permite-se mais suar com o jogo hoje em dia. Tudo tem de ser asséptico. Os caras realmente passionais foram limados do vídeo, em troca de verdadeiras máquinas de frases feitas, com seus camisas bem passadas e carinhas de bons meninos. Eita mundinho despersonalizado e sem culhão esse da presente década...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Torcedores x HDTV

O fato a seguir é real e está acontecendo cada vez com mais freqüência e intensidade. Pior: responde a uma cultura importada da Europa, onde o torcedor é mais bem visto no sofá de casa do que nas arquibancadas dos campos. No país pentacampeão mundial de futebol assim é tratado o torcedor, o cidadão comum, o ser humano.


Meu primo Sérgio tem 43 anos e torce para o São Paulo há quase trinta. Mas há um bom tempo parou de acompanhar o futebol como antes o fazia. Ele também já percebeu que a essência do jogo morreu, mas sua ausência está mais ligada ao fato de que ele não tem mais condições para se dedicar ao futebol, como em seus tempos de “Juventude Tricolor” - torcida que tinha a sede no bairro da Mooca, e que com ela percorreu vários estados atrás de seu time. Além disso, Sérgio era fã de boa música: durante os anos 80, assistiu os concertos do Kiss, Queen, Ozzy Osbourne, Iron Maiden, Whitesnake, AC/DC, entre outros. Portanto, além de conhecer futebol, ele certamente sabe como funcionam os grandes eventos culturais. Será mesmo? Neste final de semana, ele recebeu a visita de uma família de amigos vinda de Brasília, e o programa era assistir o clássico contra o Santos, no estádio que daqui a cinco anos estará sediando a partida inaugural de mais uma “Copa do Mundo”. Ele saiu de casa cedo e chegou ao estádio às 13 horas e 30 minutos, onde encontraria o restante do grupo – portanto, restavam 2 horas e meia para o pontapé inicial. Inútil, pois as bilheterias haviam sido fechadas ao meio dia, segundo informou um daqueles cidadãos que vestem uma roupa com a inscrição de “Orientador”. Desorientado e chocado, Sérgio rumou até o portão principal do clube. Um funcionário o informou que o procedimento atendia as ordens da polícia militar, que pretendia evitar tumultos antes de uma partida de risco, como eles adoram denominar. Próxima parada: um sargento que se postara a alguns metros de onde um grupo de cambistas vendia entradas livremente. Uma vez mais, Sérgio não encontrou nenhum esforço para que a sua situação se resolvesse. Questionou sobre a venda indevida de ingressos, e recebeu a seguinte resposta: "preciso de um flagrante e uma denúncia formal, onde deve constar o autor da mesma. Se você comprar um ingresso de algum deles, poderemos agir”. A última tentativa foi com um repórter que, após ouvir o caso, disse que não havia tempo para tal pauta, e entrou sorrindo nas dependências do clube que Sérgio tanto defendera – e que continua sendo apontado pelos principais veículos de comunicação como um grande exemplo de administração esportiva. A passividade de todos não deixou outra opção: ele ligou para os amigos repassando a péssima notícia, que, por sua vez, deixou as crianças que vieram de tão longe, ávidas pelo domingo de futebol, com seus corações certamente mais tristes e vazios. O de meu primo pegava fogo de raiva, e ele foi embora para casa, se sentindo um escravo isolado pelos muros que a censura e a incompetência haviam levantado nestes anos. Era realmente uma partida de muitos riscos.


No caminho de volta, envolto em melancolia, Sérgio percebeu que não basta mais amor ao clube e vontade de ir ao estádio. Hoje, você tem que se enquadrar e aceitar tudo, de cabeça baixa: os preços astronômicos das entradas, os horários imbecis dos jogos, a complacência daqueles que são pagos por você mesmo para cumprir determinadas funções – isso sem mencionar a mediocridade dos jogadores. O estádio ficou vazio durante o prélio, o que faz acreditar que os sofás estavam “abarrotados” por toda a cidade. É o dinheiro de um torcedor sendo trocado pelas quantias pagas pelos assinantes dos canais privados. Quase em nada lembrava aqueles clássicos que ele assistiu quando ainda acreditava no futebol. No dia seguinte, o Globo Esporte afirmou, sem deixar espaço para qualquer questionamento, que a falta de gente era culpa das campanhas ruins que ambos os times vinham realizando no campeonato – de maneira despudorada e descontraída, como sempre funcionou o Império da mentira. Crianças apareceram na matéria, para deixar claro que as famílias estavam de volta aos estádios. E como vivemos num país onde resistir vale menos do que um doce, podemos esperar o agravamento dessa situação até 2014. Como diz meu amigo Bury: socorro!

sábado, 18 de julho de 2009

Tava ruim, mas tava bom

Estive pensando, esses dias, na transferência de Sávio para o Real Madrid, lá por 96/97 (se errado estou, me desculpe, estou com preguiça de fazer pesquisa). Esse era um jogador bastante discutido pelo Toro e por mim, já que nos parecia deveras supervalorizado - apesar de mais objetivo que um Denilson, por exemplo, atleta que também atuava na faixa esquerda do ataque, Sávio não empolgava. Era bundinha demais, caia muito, chorava o tempo todo. O fracasso da seleção olímpica (novidade...) de 96 meio que queimou o cara; portanto, foi até certo ponto espantosa a sua contratação pelo clube madrilenho, já que diversos outros jogadores se encontravam em momento muito melhor do que o dele - mas, vendo tudo em retrospecto e observando o que temos à disposição nos paupérrimos gramados brasileiros agora, o sujeito chega a tomar o vulto de um Canhoteiro ou de um Edu. E, garanto, isso não é loucura.

Nunca pensei que fosse ter tanta saudade de um cara como esse, ou mesmo dessa época num todo. Claro, foi quando as coisas começaram a entortar de vez; mas ainda era necessário se apresentar um futebol acima da média para chegar a um clube gigantesco como o Real. Hoje, vemos por lá um tal de Marcelo, jogador que mal chegou a se firmar como titular no Fluminense, e que, não se sabe porquê, foi para a esquadra merengue para ser o substituto de Roberto Carlos. As situações de ambos até rendem comparação: enquanto este último foi para a Europa já consagrado como lateral do Palmeiras e como titular da Seleção, o primeiro fez o caminho inverso, e busca se aparecer para os brasileiros atuando por um time de fora. E trata-se de um atleta burocrático, nada mais. O padrão do futebol brasileiro, hoje, são os Marcelos, e não os Sávios (caramba, olha o que estou dizendo!). Um driblinho ou uma jogada de efeito - ou até mesmo um VT caprichado - já serve para tirar qualquer um daqui, rumo ao superestrelato. Qualquer um mesmo, cabeças de bagre, gente que mal sabe os fundamentos básicos do esporte. Felipe Melo na Juventus, Maxwell (quem?) no Barcelona, Maicon na Inter de Milão... Um cenário que chega a dar desespero. É a definitiva vitória da mediocridade.

A temporada de caça dos times europeus já está aberta. Dela, podemos esperar cada vez mais aberrações.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Dito e (mal) feito

Pois, como dito aí embaixo, o tal Felipe Melo foi negociado com um dos "grandes" da Europa - a Juventus de Turim. Um jogador que nunca sequer foi titular nos times que passou aqui no Brasil (entre eles, um Flamengo de vacas raquíticas), e que inclusive saiu dessas mesmas equipes pela porta dos fundos, na qualidade inglória de refugo ou moeda de troca, vira craque milionário no mundo do faz-de-conta. O que será que mudou? Será que o futebol dele realmente cresceu e apareceu, ou foi a exigência desses clubes "grandes" (mais apequenados do que nunca) que caiu grotescamente? Eu vou na segunda.

E uma negociação dessas pede, exige, implora uma investigação mais aprofundada. Um sujeito que nunca representou nada para clube nenhum, e que continua a apresentar um desempenho não mais do que razoável dentro das quatro linhas, não pode chegar a titular de uma seleção brasileira e a reforço dourado de um dos maiores times do mundo sem que diversos interesses não estivessem em jogo. Mas o triste de tudo isso é que os que deveriam escancarar as tramóias tem o rabo tão preso quanto os que as perpetuam. Pobre futebol.

sábado, 4 de julho de 2009

Passa a salada!

Retornando aos tempos em que a bola valia, o que teria acontecido? Como fomos parar aqui? O que pensaria Bill Shankly se estivesse vivo hoje? Me peguei rememorando os dias do início do fim. E lembro muito bem da noite em que Ronaldo fez os três gols na vitória por 3 a 2 contra o forte Valência, em Nou Camp. Transmissão da Bandeirantes, no horário da tarde aqui, se não me engano (porque, as vezes, a Band não transmitia ao vivo), e a noite vieram uns primos pra jantar em casa. De cara, surgiu o assunto da atuação do menino. Beleza. Como a maioria das famílias, a minha é infestada de gente que adora e vive o futebol. Muitos de longuíssima data. Uma estória melhor do que a outra. Até aquele momento, eu não tinha tido esse contato tão de perto com o prenuncio da morte do futebol. E foi real. Por parte da mídia, àquela altura dos acontecimentos, a babação de ovo injustificável já era insuportável. Mas a parada foi pessoal naquela noite inocente. Meu primo me pegou pra conversar e já lascou: “Veio, e o que o Ronaldinho jogou hoje, blá, blá, blá, blá?”. Pela primeira vez eu sabia que o veneno funcionava. Não exatamente pelo jogo do Valência. Mas aquele mesmo primo, um ano antes, não saberia me dizer quem era Pepe Signori – o gênio. Era o veneno. Eu lembro certinho da minha reação, e foi toda tão natural quanto estranha. Eu fechei os olhos, inclinei a cabeça pro alto, respirando bem fundo, fazendo barulho até. Foi uma reação imediata, eu mesmo não consigo lembrar porque. Sei que foi a primeira vez que eu ouvia o som do veneno. Foi foda. Abri os olhos e perguntei, com uma misto de medo da resposta que se apresentaria, e sarcasmo porque já tinha odiado o assunto pela sua óbvia falta de sentido. Eu gostava do Giovanni, do Stoichkov, do Luiz Henrique, Do Figo, Do Popescu, Do Sergi, Do Guardiola. E quando o menino fazia um gol, alguns belíssimos, mas a maioria como um bom atacante o faz, era legal. Mas eu já tava com saco inchado de ver jogador como aquele, e nunca tinha visto badalação igual no mundo. Nem com Romário. Mas no Jornal Nacional daquela noite, uma matéria exclusiva sobre a atuação do Fenômeno – “o substituo de Maradona?”, segundo a Placar, na época. Matéria global, meu povo. Foi cruel. Mas acontecia, e eu já percebia que o negócio ia pro buraco, em breve. A opinião pública deveria, como sempre, sustentar essa guerrinha oculta. Ela é sinal da morte que não se vê. Como uma criança que alimenta os pombos na praça.

Bury, não adianta. Vou apenas vomitar algumas das faces. Não tenho saco pra analisar situações atuais no mundo das fábulas. Se alguma coisa merecer, vou falar. Ainda bem que lá vem Juve! Ser torcedor é a última coisa que ainda vale.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O circo está na cidade

A coisa mais repugnante que pude ver relacionada ao futebol, nos últimos tempos, nos foi mostrada no domingo último. Não, não me refiro ao "título" da Copa das Cofederações, e sim o que se seguiu a ele: durante a comemoração, antes de os vinte e dois autômatos que ali estavam levantarem a taça, uma turminha - liderada por vermes do quilate de Robinho, Júlio César e André Santos (Daniel Alves não conta, já que este tem o próprio nome tatuado no peito) - resolveu inverter a camisa da seleção, e passou a usar o seus respectivos nome e o número na parte de frente, e não nas costas. Ali, em uma atitude tão banal, mas ao mesmo tempo tão maquiavélica, tão canalha, esses indivíduos passaram a se atribuir maior importância do que a camisa que vestiam ou àqueles que os precederam. O símbolo do país foi invertido, passado para trás, junto com todo o seu genial legado; o que realmente importava era o imediatismo, o egocentrismo, o telão do estádio, o mercado de transferências, os patrocínios de empresas multinacionais, as entrevistas ao Tino Marcos. Todos se transformaram instantaneamente em seus próprios deuses, para serem idolatrados apenas por si próprios. Nada poderia ser mais sintomático e revelador dos verdadeiros impulsos dessa patética geração do que essa simples inversão da jaqueta. Um espetáculo repulsivo, coroado com o fraternal abraço de Kaká e Ricardo Teixeira.

Dois dias depois, na terça-feira, em um desses miseráveis programas esportivos da hora do almoço (não, não vou dizer que era o da Renata Fan, o esgoto da crônica futebolística brasileira), o GC dizia, enquanto um sujeito esbravejava, as veias do pescoço saltadas: "Ulisses Costa afirma que Ronaldo irá atropelar o Inter". Nessa inocente frase, o que foi dito aí em cima se repetia, dessa vez em relação a um clube: trocava-se o nome do time pelo nome de um atleta. Não é o Corinthians que irá atropelar o Inter, é Ronaldo quem o fará. Atribui-se uma maior importância ao jogador do que ao clube. Uma instituição centenária é preterida em favor de um sujeito que lá está há pouco mais de seis meses. O "eu" é mais valorizado que o "nós", que o coletivo, até mesmo por aqueles que deveriam combater esse putrefato estado de coisas. Aí estão, a nu, os nossos "formadores de opinião" - e, se as coisas agora são assim, o futuro que se prenuncia é aterrador. Socorro!